Muitos
vão dizer de supetão que nunca ouviram falar nesta tal cozinha nose to tail
(algo traduzido como, da cabeça ao rabo). O termo francês e sofisticado é mais
uma reinvenção gastronômica do que conhecemos por moela de galinha, pé de porco,
fígado de pato e tantas partes de animais que podem parecer mais ou menos
estranhos, dependendo da região.
A
revista Época desta semana intitulou a matéria como “Pratos para quem têm
estômago”. Oras, todos têm estômago, no sentido literal da palavra. Ainda
comparou os pratos que levam estes ingredientes aos servidos no Programa No Limite,
onde os participantes quase repeliam os alimentos de tanto nojo que sentiam. Poderia
ter comparado ao programa Comidas Exóticas, apresentado pelo incrível Andrew
Zimmer, que faz questão de mostrar no sinistro algo extremamente delicioso.
Nosso
país é repleto de costumes e tradicionalismos. Desde que os barões descobriram
que a feijoada servida aos escravos era uma iguaria, o prato passou a imperar na
lista de restaurantes brasileiros abastados.
A
onda agora é o nose to tail. O novo movimento ganhou força por ser
ecologicamente correto. Prega que é falta de respeito e desperdício matar um
animal e não aproveitar todas as suas partes. Faz parte deste cardápio, pratos
que para nossa região são cotidianos, como a famosa buchada ou picadinho, agnoline
ou o frango caipira recheado de miúdos de frango e até mesmo a feijoada que tem
como ingredientes as partes menos “nobres do porco”. Lembro-me quando morei no
México de enfrentar fila em uma taqueria para provar os tacos de ubre de vaca
ou pagar caríssimo num restaurante para comer testículos recheados.
Aproveitando
o assunto e estimulando a ideia, deixo como sugestão um prato feito todos os
anos pela minha vó no Natal. Nada de Peru ou Chester, ninguém abre mão do
frango caipira recheado de miúdos de frango. É uma delícia. O sabor forte
destes ingredientes deixa o prato mais saboroso. A receita conta com uma
mistura de moela, coração e fígado com farofa. Ela ainda acrescenta bacon,
cenoura, cebola, pimentão e cheiro verde. Não tem segredo, é só picar a carne
em pedacinhos e acrescentar os ingredientes que preferir.
Fica
a dica.